Featured Video Play Icon

OS ENSINAMENTOS DA ESTRADA

Repito insistentemente que a estrada é uma das minhas maiores fontes de aprendizagem. Essa afirmação não é feita da boca para fora. As viagens de moto se prestam a dois grandes propósitos, que extrapolam o motociclismo como esporte em si.

O primeiro, é o aprendizado vivencial. Esse processo começa quando decidimos ir a algum lugar de moto. Nesse momento, começa o planejamento. Sozinho ou em grupo? Qual a rota? Quanto tempo? Quais os riscos? Quais os possíveis imprevistos? Necessidades de abastecimento ao longo da rota? Quais os planos de contingência necessários?

Depois, na estrada propriamente dita, o aprendizado é constante. A todo momento ocorrem situações que nos obrigam a lidar com o imprevisível e a sair da zona de conforto do cotidiano. Um tanque vazio, um pneu furado, um posto de combustível em greve, um governo maluco (Bolívia) que não vende gasolina para estrangeiros, uma cidade lotada e sem hotel no meio da noite com mais de 100 km de distância até a próxima cidade, um tombo no meio do nada, um caminho errado, um encontro inesperado, uma moto quebrada. Na estrada, não temos escolha a não ser lidar com todas essas coisas à medida em que elas acontecem. Isso, acredito, nos torna indivíduos dotados de elevadíssimo nível de resourcefullness, uma expressão difícil de traduzir para o Português, mas que simboliza pessoas que não ficam de mimimi e simplesmente encontram os recursos para fazer o que é necessários, estejam eles onde estiverem. Na estrada, o bem estar e a sobrevivência dependem disso, não tem pra onde correr.

E o segundo propósito, é servir de válvula de escape do cotidiano e possibilitar o que eu chamo de desligar o piloto automático. Vivemos tempos loucos. Frequentemente, nas minhas palestras, pergunto às pessoas quem na plateia tem a sensação de que o tempo passa cada vez mais rápido. Inequivocamente, é um oceano de mãos levantadas. Mas é óbvio que o tempo continua passando no mesmo ritmo. O que tem mudado, é a pressão exercida sobre nós por essa sociedade de consumo maluca, em que o sucesso é medido pelo que você tem e consome e onde a glamourização do fútil é um movimento progressivo e avassalador. Isso, com frequencia, nos coloca em um estado de Piloto Automático, vivendo uma vida que não é a nossa, perseguindo escolhas que não escolhemos e lidando com prioridades que são de terceiros. A motocicleta me permite desligar esse piloto automático e entrar em contato comigo mesmo e com meus anjos e demônios de uma maneira intensa. Não por acaso, algumas das decisões mais importantes e algumas das ideias mais relevantes da minha vida, me vieram dentro do capacete. É o meu espaço de reflexão e introspecção, de onde saem sacadas como a que registrei no vídeo que está na abertura desse post, que em poucas horas foi assistido por mais de 10.000 pessoas depois de uma postagem despretensiosa na minha timeline do facebook. Se você já assistiu, talvez curta ver novamente. Se você não viu, pode ser que tenha aí alguma coisa que faça sentido pra você. #mototerapia

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *