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Dia 6 – Tyumen – Omsk – 625 KM

É, hoje foi foda. Moto quebrada é sempre um empata sem tamanho. Mas faz parte.

Saímos de Tyumen antes das 8h e o dia transcorria que era uma beleza. Efetivamente, agora a sensação é de estar em um lugar “diferente”. Basicamente, chegamos ao ponto em que o GPS torna-se quase que obsoleto, porque não existem mais tantas alternativas de rota. É “ir” ou “voltar”. Como consequência, o movimento é bem menor, a viagem torna-se muito mais divertida e rende infinitamente mais. Tivemos temperaturas oscilando dos saarianos 32 até cerca de 20 em um ponto onde pegamos uns 30 segundos de chuva. Já havíamos completado o segundo abastecimento do dia e seguíamos para o último trecho longo antes de abastecer na chegada de Omsk quando olhei pelo retrovisor e não vi Rodrigo. Retornei e lá estava ele, parado à beira do caminho, achando que a moto tinha algum problema na relação. Uma rápida análise, e deduzimos que muito provavelmente não era a relação, mas sim a embreagem. No retorno de uma viagem à Bolívia/Peru/Chile, uma das motos teve uma pane com sintomas idênticos e acabou retornando de caminhão para Curitiba com a embreagem em frangalhos. Portanto, provavelmente, temos o mesmo quadro.

Primeiro, tentamos acionar nossos contatos em Moscou. Como não tivemos sucesso na primeira, tentativa, acionamos o primeiro contato de emergência da relação que nos deram em Moscou e fomos prontamente atendidos. Era o presidente de um moto clube de uma cidade uns 1200 km mais a frente, que se prontificou a pedir para um mecânico que falasse inglês para nos ligar. Logo em seguida os contatos de Moscou retornaram e em cerca de 15 minutos a situação estava contornada, com o reboque a partir de Omsk (cerca de 150 km de distância) acionado. Nesse ínterim ainda recebemos a ligação de um mecânico da BMW para se certificar do diagnóstico e do mecânico que falava inglês que ligou a pedido do presidente do motoclube. Ou seja, definitivamente não estamos sozinhos na Rússia e todo o planejamento em termos de pontos de contato e emergência funcionou mais do que a contento. Assim, nesse ponto, só nos restava esperar. O problema é que considerando que deveria ser um caminhão que nos havia sido enviado, a média horária previstas nos sinalizava que seriam longas 3 ou 4 horas à beira da estrada. Embaixo de um sol de 32 graus sem um pingo de sombra ao redor, virou um martírio…

Como o que não tem solução, solucionado está, pegamos uma das barracas e armamos ao lado das motos. O resultado está abaixo:

A partir de então, passamos a ter opção: o sol escaldante com algum vento do lado de fora, ou a proteção com sombra dentro da barraca-estufa. Como se vê, ninguém disse que seria fácil… 🙂

O planejamento também se mostrou efetivo no que tange à disponibilidade de água e comida nas motos. Não passamos um segundo que fosse de aperto, suprimentos à vontade para o período.

Durante a espera, um motociclista que viajava sozinho parou e veio oferecer ajuda. Realmente ser motociclista tem um negócio diferente. O cara era um Russo, falava apenas algumas palavras em inglês, mas fez questão de parar, se ofereceu pra rebocar a moto quebrada, e fez questão de no mínimo deixar um pacote de sementes de girassol que ele levava pra consumo próprio pra se assegurar que estaríamos bem. Ele estava a caminho de Magadan, uma cidade também meio mítica para motociclistas, onde termina a “Road of Bones”, que como você já deduziu, também é um roteiro meio mítico que vai ao extremo leste da Rússia. Ele estava em uma BMW exatamente igual a que estou utilizando (uma ADV 2013) com, pasmem, 250.000 km rodados. Aí a gente tem que ouvir gracinha de que BMW não presta porque quebra. É verdade, quebra… com 110.000 km (como a moto que está com o Rodrigo), enquanto a IMENSA maioria das outras motos não chega a rodar essa distância ao longo de toda a vida. Aliás, acho essa coisa de falar que a marca A ou B ou C quebra mais e é porcaria de uma bobagem tão sem sentido que me nego a perder tempo com discussões desse tipo. A melhor moto é a que nos leva onde queremos ir. Ponto final. Todas quebram, todas têm prós e contras e, no fim do dia, o que faz a diferença sempre foi, é e será o piloto. O resto é conversa pra boi dormir.

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Eis que finalmente, chega nosso transporte. Um ônibus/caminhão (não conseguimos enquadrar o amarelinho em uma única categoria). Quando ele encosta, eu e Rodrigo nos olhamos e a única pergunta que vem à mente é: como é que vamos colocar essa porra dessa moto de 300 kg dentro disso? hehehehe… a resposta é simples: Russian Style!!!!! Botamos a bicha pra dentro do caminhão literalmente no braço, levantando na força bruta sem nenhum apoio, rampa ou qualquer coisa do tipo. Aqui o esquema é bruto! 🙂

E assim chegamos à Omsk, já quase as 23h, exaustos e direto à oficina. Como já disse, o esquema aqui é bruto. Domingo, 23h, e haviam 5 pessoas nos esperando na oficina para começar a trabalhar na moto. Dá gosto de ver. O jeito agora é torcer para que amanhã a moto esteja pronta para seguir viagem. Perdemos um dia, já que amanhã a ideia era rodar 900 e bola até Tomsk. Mas como o dia seguinte era de descanso, por hora, estamos em plenas condições de recuperar o tempo perdido com tranquilidade. Só depende da moto ficar pronta. Torçam por nós! 🙂

A final de toda essa confusão, vale uma reflexão que me ocorreu enquanto eu cochilava na barraca-estufa. É nessas horas que a importância de grupos que funcionam bem aparece. Somos um pequeno grupo de dois, mas em situações de potencial stress como a de hoje é que a sintonia das pessoas faz a diferença. Chegamos a falar sobre isso: imagina se um dos dois é um mala sem alça do tipo que reclama de tudo e começa de chilique ao primeiro sinal de problema? A viagem acabava aqui!!!!! O stress desnecessário geraria irritação desnecessária e tornaria uma situação que já é chata por natureza em algo insuportável. Por isso, às vezes, o pessoal do nosso grupo de viagem faz cara de paisagem quando algum outro amigo se insinua para querer viajar junto em uma das próximas oportunidades. O fato é que construir um grupo que realmente funcione bem leva tempo. E uma coisa é fazer uma viagem de final de semana ao balneário mais próximo, em que no máximo em 500 km e dois ou três dias depois, qualquer potencial encheção terá desaparecido. Outra coisa é dividir satisfação, perrengue e problema por 3 ou 4 semanas a fio. Nessas horas, a integração e sintonia fazem toda a diferença. É por isso que Montanha, Deco, Edu e Frango, vocês estão fazendo falta (até porque ia ficar bem mais fácil de levantar aquela porra daquela GS pro caminhão)… hehehehe…  🙂

 

6 comentários em “Dia 6 – Tyumen – Omsk – 625 KM

  1. Estou acompanhando Vocês meus caros, sou apaixonada pela GS e já tive uma Cavalona (f800) a qual meu noivo sofreu um grave acidente perto de Iguapé, batendo de frente com um carro na pista. Hoje, 1 ano e meio após tal acidente, ele já esta completamente recuperando (um milagre, fomos presenteados pr Deus com este livramento). A Cavalona deu PT , mas não vemos a hora de voltar a ativa… está rota é uma sonho nosso, e acompanha – los é sensacional. O post de hj diz tudo, a parceiro do grupo (dupla) faz toda diferença no desenhar do dia de vocês. Boa viagem !!!!

  2. Muito bacana essa parada dos Moto Clubes daí dando o apoio pra vocês.
    Nos EUA quando fiz a Rota 66, por um instante achamos que estávamos perdidos. Eu parei minha monto um pouco mais a frente do pessoal, na estrada, embaixo de uma sombra. Um motociclista passou por mim, me viu parado e uns 20 minutos depois ele retornou perguntando se precisava de ajuda. Ela não tinha visto o outro pessoal mais atrás e achou que eu estivesse só. Esse é o espírito do motociclista que quem apenas já fez uma aventura dessas sabe do que estou falando.

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