Paso San Francisco

PORQUE TRANSIBERIANA?????

Afinal de contas, o que leva duas pessoas em pleno gozo de suas faculdades mentais a planejar uma viagem de quase 11.000 km no meio do nada, apenas para atravessar a tal Rota Transiberiana? E, sobretudo, porque a Rota Transiberiana?

Parafraseando muitos alpinistas que, quando questionados a respeito do que os move para escalar uma montanha como o Everest, a resposta é simples: porque a estrada está lá!

A natureza humana é movida por desafios. É a necessidade de ultrapassar limites que move a humanidade à frente, que impulsiona descobertas, avanços e o progresso propriamente dito. Não fosse o instinto de buscar sempre mais e melhor, e provavelmente o homo sapiens ainda estaria na caverna, caçando para sobreviver e com uma expectativa de vida na casa dos 30 anos. Assim é, em parte, o motociclismo de longas distâncias (como assim é com a maioria dos esportes de aventura). O melhor desafio sempre é o próximo.

E assim foi minha história com o motociclismo. Desde minha primeira viagem longa sobre uma motocicleta, quando há exatos 16 anos atrás desembarquei com três amigos (um dos quais é o Rodrigão, que estará comigo na Russia) para uma “super aventura” pilotando Harley-Davidsons na Califórnia, o vírus da “próxima viagem” se instalou e não saiu mais. Desde então, algumas vezes sozinho, algumas vezes na companhia de outros malucos, conheci algumas das estradas mais bonitas do mundo. Carretera Austral e Deserto do Atacama (Chile), Ruta 40 (Argentina), Ruta Panamericana (América do Sul), Carretera de la Muerte (Bolívia), Rota 66 e Rota 61 (EUA), Cape of Good Hope (Africa do Sul), Pacific Ocean Highway e Gold Coast Highway (Australia), e até mesmo um tour por Varadero, em Cuba, montado em uma scooter (abaixo, fotos de algumas dessas viagens). Mas desde sempre, algumas rotas habitam o imaginário como conquistas extremas, daquelas que sempre estão presentes como um objetivo a ser perseguido e alcançado.

A Rota Transiberiana sempre ocupou lugar de destaque no Olimpo das estradas míticas a serem percorridas no curso da vida. Porque? Como disse na abertura desse post, porque ela está lá. Mas não só por isso. Primeiro, pelo fascínio que as histórias que eu lia quando criança e adolescente e  que falavam da viagem de trem por essa Rota como algo fascinante, exótico, em um mundo misterioso e diferente de tudo que conhecemos no Ocidente. Segundo, pela larga distância envolvida cruzando território desconhecido, o que constitui por si só um desafio para o motociclista, pelo ponto de vista técnico e de resistência. Terceiro, por somar às dificuldades da estrada em si, aquelas que residem na necessidade de se virar em um local onde absolutamente ninguém irá entender uma só palavra do que dissermos, e, pior, onde não seremos capazes de entender sequer um cardápio de restaurante escrito em russo com alfabeto cirílico. Por mais paradoxal que isso possa parecer, são as dificuldades que me atraem em uma viagem como essa, já que são elas que trarão os aprendizados que busco nessas aventuras.

O melhor dessa história toda é que as estradas a serem percorridas dificilmente se esgotarão um dia. Obviamente o foco agora está totalmente concentrado na Rússia. Mas no dia seguinte à chegada em Vladivostok, com absoluta certeza começarei a pensar na próxima viagem. Montanhas do Canadá, Alaska-Ushuaia, Marrocos-Cidade do Cabo, Países Nórdicos, pra ficar apenas em algumas que já ocupam lugar especial no imaginário. É… definitivamente, a vida é curta demais!

Nunca me esquecerei da sensação que tive quando cheguei a Ushuaia, na Patagônia Argentina, 7.000 km depois de ter saído de Curitiba, sozinho, naquela que considero a minha viagem de batismo efetivo como um motociclista “de verdade”. A sensação de realização e o upgrade de autoestima – algo que fica para toda a vida e é útil em todos os momentos – foram indescritíveis. Talvez, seja isso que move motociclistas de longas distâncias em sua gana de ir cada vez mais longe por caminhos cada vez mais difíceis. Não é de motociclismo apenas que estamos falando. Estamos falando da busca pela superação constante; da capacidade de sonhar, planejar e conquistar; da necessidade de viver a vida plenamente, de conhecer o novo, de explorar novos caminhos. Estamos falando de VIVER! O motociclismo, é apenas o pretexto e a forma como nós, motociclistas, canalizamos nossa energia na direção de todas essas coisas. A motocicleta é o instrumento. Mas é a paixão pela vida em si que, em última instância, de fato nos move!  É esse sentimento que esperamos encontrar – e encontraremos – quando chegarmos em Vladivostok. Fisicamente exaustos, mas, como sempre digo, realizados e muitíssimo diferentes do que éramos quando acelerarmos as motos em São Petersburgo.

 

9 comentários em “PORQUE TRANSIBERIANA?????

  1. Meu Deus!!! Que viagem. Penso eu que nada, nada é mais prazeroso que estar em cima de uma motocicleta e ser abençoado por paisagens e lugares deste mundo maravilhoso…só acompanhando o rolle daqui. Grande abraço.

    1. Oi Kasuya. Vamos lá: pra Ushuaia, a primeira viagem mais longa que fiz, fui de Suzuki V-Strom. A razão da escolha: era o que o bolso segurava na época! 🙂 Nas viagens nos Estados Unidos (Rota 66 e Rota 61), fiz de Harley-Davidson. Porque? Ora, porque é a rota 66!!!! 🙂 Seria uma heresia cruzá-la a bordo de qualquer coisa diferente (talvez uma Indian fosse aceitável). E não só de Harley, como usando jeans, couro e capacete coquinho, nada de tecidos tecnológicos e capacetes sofisticados. No resto todo, BMW GS. Nesse caso, porque pra mim, é a moto que melhor traduz o espírito pau pra toda obra. Boa de asfalto, boa de off-road, confortável em longas distâncias, confiável e robusta! Grande abraço

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